Certa vez, houve uma grande festa no céu e todos os animais da Terra foram convidados. Como os bichos eram muito festeiros, foram logo combinando que o urubu deveria animar os convidados tocando viola.
Estando o famoso violeiro, na beira da lagoa, ensaiando algumas músicas, ouviu uma vozinha resmungando sem parar:
– Ai! Ai! Ai! Como posso ir à festa? Ando tão devagarinho que, quando chegar lá, a festa já terá terminado há muito tempo!
– Que foi, comadre targaruga? Agora deu para falar sozinha? – perguntou o urubu, interferindo nas lamentações da vagarosa.
– Veja só, compadre: os outros há muito chegaram na festa. Menos eu. Ainda nem cheguei no meio do caminho e lá no céu muitos já caíram na folia – reclamou a tartaruga.
– Ora comadre, deixe lá de rabugices e suba dentro da minha viola. Eu também já estou atrasado pra festança – respondeu o urubu preparando-se para voar.
Chegando no céu, o urubu foi recebido com muita algazarra, pois os bichinhos, que já comiam e bebiam do bom e do melhor, estavam ansiosos para que logo iniciasse o baile.
Mal se sentara, o urubu tentou tirar as primeiras notas de sua viola, mas a música que saía de lá tinha um som abafado e muito desagradável.
– Ora, o que será que está acontecendo? Lá na Terra o som era uma maravilha que só vendo! – exclamou o violeiro.
– Me tira daqui, ó compadre, antes que eu fique surda – berrou a vozinha que vinha de dentro do instrumento.
– Mas não é que a nossa amiga lerda ainda não conseguiu sair daqui?! – brincou o violeiro mal contendo a gargalhada.
Assim, depois de tirarem a comadre de dentro da viola, começou a maior festa de todos os tempos. Cada bicho convidou a sua parceira para dançar e o “arrasta-pé” foi até o despontar da manhã.
Bem cedinho, a bicharada resolveu retornar à Terra. Aqueles que não sabiam voar foram pedir carona aos que sabiam.
Em pouco tempo quase todos já estavam de volta. Só dois ainda estavam por lá: o urubu e a tartaruga.
– Já está pronto, comprade urubu?
– Ao tempo que estou esperando a senhora chegar, já podíamos estar na Terra – respondeu o violeiro, bocejando de sono por causa da demora.
Logo a molengona tratou de entrar novamente dentro da viola e, em poucos minutos, os dois bichos já estavam voando de volta para casa.
Mas como na Terra o tempo se preparava para chuva, eles tiveram que atravessar muitas nuvens. Com isso, o urubu sentiu sono, pois havia passado toda a noite animando o baile da bicharada.
Chegando a certa altura, o urubu, que não tinha resistido ao cochilo, esqueceu que dentro da viola estava a comadre. Quando esta tentou chamar a atenção dele, já era tarde.
A viola virou de boca para baixo e a comadre despencou de lá de cima gritando, feito louca, por socorro.
Porém ninguém conseguiu ouvir a vozinha da tartaruga e a coitada levou um tombo tão grande que quebrou toda a carapaça.
Demorou um tempão para soldar outra vez, mas ficou para sempre a marca das rachaduras.
É por isso que até hoje a tartaruga tem as costas como se fosse feita de pedacinhos colados um no outro.
(Festa no Céu, Coleção “Paraíso da Criança I” – “Séries Brasileiras”, Editora Edelbra)
adoreii a historia!!
boua