Situação fictícia – Parte 1

Situação fictícia – Parte 1
Soninha estava perdida no meio dos livros de história que sua avó tinha lhe dado de presente. Não que a avó fosse rica. Isso ela não era mesmo. Já tinha sessenta e cinco anos e ainda trabalhava todos os dias como governanta. Ela gostava do seu serviço e costumava dizer que seu jeito de organizar tudo é que tinha agradado a “patroa”. Dona Sofia era assim mesmo. Tudo tinha de ficar no lugar, arrumadinho, guardadinho. Se ela visse Sonhinha com os livros todos espalhados no chão, iria logo falar:
– Mas, minha filha, você não sabe ler sem fazer toda essa bagunça?
Soninha não sabia. Bom mesmo era poder ficar ali, no chão, sentada entre os presentes dados pela avó, no Natal: nove livros novinhos e, pasmem, todos da mesma autora. Porém ela não estava assim à-toa. Tinha bem uma razão. Na escola dela estava acontecendo um coisa muito legal: um concurso de literatura com direito a prêmio e uma tarde de autógrafos com a autora de seus livros novos: a Sofia Leno. Não só com ela. Tinha também a Beatriz Cintura, a Camila Silva, o José Jorge, o Antônio Luiz…
E ela estava assim, no chão folheando e lendo os livros, porque queria muito participar do concurso. Só que, antes, precisava saber mais sobre o que essa autora, a Sofia Leno, escrevia, sobre suas histórias, sua vida. Ah, a autora tinha o mesmo nome da avó de Sonhinha. Será que por isso ela gostava tanto do que essa Sofia escrevia?
Bom, mas deixa eu me apresentar para vocês. Fiquei aqui falando da Soninha e nem contei quem  sou: o narrador desta história! Vocês sabem o que isso quer dizer? Que sou eu quem vai contar tudinho para vocês! Embora eu não tenha participado diretamente dos acontecimentos, fiquei observando a Soninha durante todo o tempo do concurso. A menina é bem bacana e muito esperta. Espero que vocês gostem dela. E, se tiverem alguma dúvida, não se acanhem em me perguntar. Eu sei tudo sobre a nossa personagem principal, sua família, seus sentimentos e vontadesl. Enfim, estou por dentro de tudo. Sabe como é, né? Coisas de narrador! Vamos começar do começo, então?
Tudo começou em agosto, quando Antônio, o professor de Português da Soninha, chegou à classe e contou para os alunos que eles participariam de um concurso de literatura. Como eles tinham estudado até aquele momento um monte de coisas sobre textos narrativos, lido muitas histórias e escrito outras tantas, o professor achou que aquele concurso poderia inseri-los em um contexto real de uso da língua.
Aliás, o concurso vinha a calhar mesmo. E tinha a ver com a seguinte situação: várias escolas públicas da cidade de Bocato poderiam inscrever seus alunos de quinta a oitava série no concurso para que escrevessem um conjunto de textos narrativos que, se escolhidos, seriam publicados em um livro de verdade, iguais aos de Sofia Leno.
Só de pensar nisso, Soninha já começou a sonhar, porque ela ADORAVA ler e escrever. E tinha muitas idéias mesmo. Bom, mas tinha mais: eles teriam dois meses para produzir as histórias e enviá-las pelo correio para os organizadores do evento. Os avaliadores dos textos seriam autores de verdade (quer dizer, profissionais!), que escolheriam os textos e, depois, passariam algumas horas com os autores mirins.
O mais legal é que, durante esses dois meses, esses autores fariam visitas em algumas escolas para falar com os alunos e contar um pouco sobre seu processo de escrita, as dificuldades que encontravam quando iniciavam uma nova história, como sabiam quando uma história estava pronta e acabada etc.
Por isso a Soninha estava lá, sentada com seus livros. A Sofia Leno ia à sua escola na próxima semana e ela queria perguntar um monte de coisa sobre seus livros. Pegava mal falar com a escritora sem ao menos conhecer seus textos, né?

Débora de Angelo e  Eliane Aguiar. Texto escrito especialmente para este Caderno.